“Suas moedas têm um som mais bonito do que as grandes ofertas dos ricos, porque expressam uma vida dedicada a Deus com sinceridade, uma fé que não vive de aparências, mas da confiança incondicional”. A pobre viúva, uma mestra da fé, um modelo a ser seguido para assim sermos curados da hipocrisia, doença perigosa da alma.
A passagem do Evangelho de Marcos (Mc 12, 38-44) proposta pela liturgia do dia, apresenta um contraste gritante: de um lado os ricos, que dão o que é supérfluo para serem vistos, e de outro uma “pobre mulher que, sem aparecer, oferece todo o pouco que tem. Dois símbolos de comportamentos humanos”.
A pobre viúva, um modelo
A cena, explicou o Papa aos milhares de fiéis e turistas reunidos na Praça São Pedro, “se passa dentro do Templo de Jerusalém. Jesus olha o que acontece neste lugar, o mais sagrado de todos, e vê como os escribas gostam de caminhar para ser notados, saudados e reverenciados e ter lugares de honra”. Contemporaneamente, “seus olhos vislumbram outra cena: uma pobre viúva, precisamente uma daquelas exploradas pelos poderosos, coloca no tesouro do Templo tudo o que tinha para viver”:
O verbo “guardar” – diz Francisco – vai resumir o ensino de Jesus sobre estas duas cenas, ou seja, devemos nos guardar daqueles que vivem a fé com duplicidade, como aqueles escribas, “para não nos tornarmos como eles”, mas olhar para a viúva e “tomá-la como modelo”. “Detenhamo-nos nisto – enfatizou o Papa – guardar-se dos hipócritas e olhar para a pobre viúva”:
Antes de tudo, guardar-se dos hipócritas, isto é, estar atentos para não basear a vida no culto da aparência, da exterioridade, no cuidado exagerado da própria imagem. E, sobretudo, estar atentos para não submeter a fé aos nossos interesses.
O mal do clericalismo
O Papa explica que aqueles escribas cobriam com o nome de Deus a própria vanglória, mas pior ainda, “usavam a religião para administrar seus negócios, abusando de sua autoridade e explorando os pobres”. Um mau comportamento “que também hoje vemos em tantos cargos, em tantos lugares. O clericalismo, este estar acima dos humildes, explorá-los, pisar neles, sentir-se perfeitos. Este é o mal do clericalismo”:
É uma advertência para todos os tempos e para todos, Igreja e sociedade: nunca tirar proveito da própria posição para pisar sobre os outros, nunca ganhar à custa dos mais fracos! E vigiai, para não cair na vaidade, para que não aconteça de nos fixarmos nas aparências, perdendo a substância e vivendo na superficialidade.
Hipocrisia, doença perigosa da alma
Francisco convida então a nos perguntarmos: “naquilo que dizemos e fazemos, queremos ser apreciados e gratificados ou prestar um serviço a Deus e ao próximo, especialmente aos mais fracos?”. E alerta: Vigiemos as falsidades do coração, a hipocrisia, que é uma doença perigosa da alma!”:
É um pensar duplo, um julgar duplo, como diz a própria palavra: “julgar por baixo”, aparecer de uma forma e “hipo”, sob, ter outro pensamento. Duplos, pessoas com almas duplas, duplicidade de alma.
Libertar o sagrado dos laços do dinheiro
E para sermos curados dessa doença, “Jesus nos convida a olhar para a pobre viúva”. “O Senhor – enfatizou o Pontífice – denuncia a exploração desta mulher que, para fazer a oferta, deve voltar para casa privada até mesmo do pouco que tem para viver”:
Como é importante libertar o sagrado dos laços com o dinheiro! Jesus já havia dito, em outro lugar: não se pode servir a dois senhores. Ou serves a Deus – e nós pensamos que diga “ou o diabo”, não – ou Deus ou o dinheiro. É um senhor.
Mas, ao mesmo tempo – acrescenta Papa – Jesus elogia o fato de que essa viúva coloca tudo o que tem no tesouro:
Ela fica sem nada, mas em Deus encontra o seu tudo. Ela não teme perder o pouco que tem, porque tem confiança no muito de Deus, e este muito de Deus multiplica a alegria de quem dá.
Isso remete a outra viúva, àquela do Profeta Elias, que estava para preparar uma focacia com o que lhe restava de óleo e farinha. Mesmo assim deu de comer a Elias, “e a farinha nunca irá diminuir, um milagre! – exclamou Francisco -. O Senhor sempre, diante da generosidade das pessoas, vai além, é mais generoso. Mas é Ele, não a nossa avareza.
Mestra da fé
Assim, “Jesus propõe como mestra de fé esta senhora: não vai ao Templo para colocar em dia a consciência, não reza para ser vista, não ostenta a sua fé, mas dá com o coração, com generosidade e gratuidade”:
Suas moedas têm um som mais bonito do que as grandes ofertas dos ricos, porque expressam uma vida dedicada a Deus com sinceridade, uma fé que não vive de aparências, mas da confiança incondicional. Aprendamos com ela: uma fé sem ornamentos externos, mas sincera por dentro; uma fé feita de amor humilde a Deus e aos irmãos.
E agora nos dirijamos à Virgem Maria, que com o coração humilde e transparente fez de toda a sua vida um dom para Deus e para o seu povo.
Jackson Erpen/ Vatican News
Fonte: CNBB