O Ofício Divino das Comunidades é uma modalidade de inculturação, que adapta a tradição litúrgica romana, Liturgia das Horas, à realidade cultural e religiosa dos católicos brasileiros e latino-americanos. Com essa motivação a 6ª Semana Social Brasileira (6ªSSB) preparou o Ofício, a partir do tema que esta sexta edição da SSB trabalha que é Mutirão pela Vida: por Terra, Teto e Trabalho.
O material visa favorecer e fortalecer o caminho espiritual das pessoas que atuam como agentes nas Pastorais Sociais, e de modo especial, na mobilização da 6ªSSB nos territórios. Os Ofícios podem ser usados nos encontros formativos, nas reuniões, nas celebrações com o povo. É para alimentar a fé e a profecia, no anúncio e na denúncia. É também para animar e encorajar à luta de quem vive sem terra, moradia e trabalho. É uma prece que se une ao Deus da vida que tanto sonha para o seu povo e para toda a criação: “vida em abundância”.
“O Ofício, portanto, é uma tradição da liturgia, assumindo o momento celebrativo integrando-o entre fé e vida. E trazer os temas: Terra, Moradia e Trabalho, é reconhecer esses lugares e essas condições como fundamentais à dignidade humana. Integrar Terra, Moradia e Trabalho na espiritualidade, alimenta a mística – do ‘ser em Cristo’ e ‘tornar-se um/a com Jesus’ –, no dia a dia, e nós coloca na luta pela justiça social na qual o Deus da Vida nos mobiliza, para que estejamos atuando de maneira coerente, a partir de uma espiritualidade libertadora”, afirma Alessandra Miranda, secretária-executiva da 6ªSSB.
Segundo a tradição cristã, espiritualidade é aceitar-se guiar pelo Espírito de Deus, que se revelou em Jesus Cristo, e que anima a caminhada de quem o segue no chão da vida, em meio à realidade que o povo vive. No Evangelho de Mateus (cf. Mt 28, 1-10), Jesus Ressuscitado se revela à Maria Madalena e a outra Maria, as primeiras testemunhas da ressurreição, e as envia a anunciar à comunidade discípula: “Ele não está aqui, porque já ressuscitou, como havia dito. Vinde, vede o lugar onde o Senhor jazia. Ide pois, imediatamente, e dizei […] que já ressuscitou dentre os mortos. E eis que ele vai adiante de vós para a Galileia; ali o vereis”.
Para se ter uma ideia, ainda que elementar, a região da Galileia, no tempo de Jesus, era um lugar de “mistura de povos”, povo excluído do grande centro, às margens. Jesus começa sua missão neste território, e envia a comunidade discípula após a ressurreição, não por acaso. Neste espaço estavam os “sem lugar”, os “deslocados”. A missão de Jesus Cristo é que todas as pessoas tenham vida, e vida em abundância (cf. Jo 10,10).
“É, portanto, um caminho estreitamente ligado à vida concreta. No nosso caso, a complexa realidade brasileira é o lugar onde o agente de pastoral é chamado a viver a cada dia a espiritualidade cristã e a deixar-se conduzir pelo mesmo Espírito que animou Jesus e o levou a inserir-se na trama humana e assumir o risco da história”, afirma a teóloga Maria Clara Bingemer em seu livro Viver como crentes no mundo em mudança, publicado pela editora Paulinas.
Ainda, no mesmo livro, Maria Clara afirma que a “experiência mística, no Cristianismo, é a experiência de um Deus encarnado […]. Não havendo encarnação, não há a possibilidade de Deus assumir todas as coisas por dentro e viver a história passo a passo, por assim dizer, ‘na contramão’ da sua eternidade”.
“Nada do que é humano é estranho à mística cristã, e toda a nova descoberta e toda a nova ênfase, em termos de humanidade, vêm não a ameaçar a mística cristã, mas, pelo contrário, a alimentá-la, a nutri-la, a fazê-la mais de acordo ao sonho de Deus Pai, Filho e Espírito Santo […] que preside a história e trabalha por dentro a carne do mundo”, salienta Maria Clara.
A partir da encarnação, Deus começa a ser diferente para humanidade. Como diz o teólogo José M. Castillo, “Deus de funde e se confunde com o humano, a ponto de já não ser possível nem entender, nem ter acesso a Deus prescindindo do humano”.
Por isso, a 6ªSSB se propõe, a partir da mística cristã, caminhar e construir com o povo, o fortalecimento da luta para acessar o direito fundamental de ter terra, moradia e trabalho digno. Pois em primeiro lugar está a vida, a segurança de ter um lugar para viver: dignidade e direitos garantidos e o cuidado com a Casa Comum.
Ajudaram na elaboração dos conteúdos dos Ofícios: o padre Laudemiro Borges (pe. Mirim), da Rede Celebra; Luis Duarte Vieira e Maicon André Malacarne da Pastoral da Juventude e na gravação dos Salmos e abertura do Ofício, Rialdo Vieira.
Por Osnilda Lima | Comunicação 6ªSSB e Pastorais Sociais
Fonte: CNBB