Irmãs e irmãos no Senhor Jesus!
“Que o Deus da esperança vos encha de toda alegria e paz, em vossa vida de fé. Assim vossa esperança transbordará, pelo poder do Espírito Santo.” (Rm 15,13)
“…já é hora de despertardes do sono. Agora a salvação está mais perto de nós do que quando abraçamos a fé. A noite está quase passando, o dia vem chegando: abandonemos as obras das trevas e as armas da luz…revesti‐vos do Senhor Jesus Cristo…” (Rm 13,11‐12.14).
Com a abertura da Porta Santa na Catedral, no dia 12 de dezembro, nossa Igreja Particular de Grajaú, iniciou, em clima de fé, de compromisso, de fraterna comunhão, o caminho di conversão e de renovação pessoal e comunitária que nos é proposto pelo Jubileu da Misericórdia. Com certeza este Jubileu é um especial dom de Deus, para que nossa Igreja, neste tempo especial que em que se encontra, possa rever e repensar a como está vivendo a missão que Jesus nos confia nestas nossas terras. Por isto também nossa Assembleia Diocesana de Pastoral não nos apontou urgências ou prioridades especificas, mas nos convidou a refletir e ver como nestes anos estamos acompanhando e realizando a conversão pastoral a que nos compromete a Missão Continental, nas linhas traçadas pelo Espírito Santo na Conferência de Aparecida, corrigindo e orientando nossa presença e nosso trabalho a serviço do Reino.
Portanto o clima, as orientações e as preciosas sugestões deste Jubileu da Misericórdia deverão orientar a vida e a pastoral de nossas comunidades ao longo deste Ano de graça, de maneira que Nosso Plano Pastoral neste ano seja viver intensamente e serenamente o Jubileu da Misericórdia.
“A Igreja tem necessidade deste momento extraordinário. Não digo: é bom para a Igreja este momento extraordinário. Digo: a Igreja tem necessidade deste momento extraordinário. Na nossa época de profundas mudanças, a Igreja é chamada a oferecer a sua contribuição peculiar, tornando visíveis os sinais da presença e da proximidade de Deus. E o Jubileu é um tempo favorável para todos nós a fim de que, contemplando a Misericórdia Divina que supera todos os limites humanos e resplandece na obscuridade do pecado, possamos tornar-nos testemunhas mais convictas e eficazes”. (Papa Francisco:09/12/205).
O que levou o papa a proclamar o Jubileu da Misericórdia, foi a certeza que um mundo dilacerado pelos interesses egoísticos, por guerras, discriminações, assassinatos, violência, condições desumanas, sofrimentos precisava redescobrir o coração de Deus, o amor do Pai que nos criou, através do Filho Jesus Cristo, o bom Samaritano que veio compartilhar conosco esta sofrida realidade humana, bom Samaritano capaz de se fazer companheiro de todo irmão caído, ferido, sofrido…
Também em nossa Diocese, sentimos a presença devastadora deste nosso mundo com sua carga de injustiças e sofrimentos, sentimos a presença de um povo confuso e desnorteado, que esquece o Pai que nos criou, esquece suas tradições e valores, para ir atrás das tentações e ilusões que a sociedade, e também tantos falsos pastores, lhe apontam provocando ainda mais sofrimentos e discriminações.
Nossas comunidades se tornam sempre mais “pequenos rebanhos” e nem sempre coerentes em viver e testemunhar os verdadeiros valores que promovem a justiça e a fraternidade.
Precisamos sentir e fazer sentir a todos que Deus ”…amou tanto o mundo, que deu seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele.”(Jo 3,16)Por isto viver o Jubileu como experiência da Misericórdia do Pai, que nos criou por amor e por amor continua a vir ao nosso encontro para nos acolher e perdoar, significa colocar ao centro de nossa reflexão, de nossa vida de nossa presença e ação pastoral Jesus Cristo porque é nEle e por Ele que Deus se revela e se faz presente no meio de nós, no meio deste nosso mundo. “…quando se manifestou a bondade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor pela humanidade, ele nos salvou, não por causa dos atos de justiça que tivéssemos praticado, mas por sua misericórdia, mediante o banho de regeneração e renovação do Espírito Santo. Este Espírito, ele o derramou copiosamente sobre nós por Jesus Cristo, nosso Salvador, para que justificados pela sua graça, nos tornemos na esperança, herdeiros da vida eterna.” (Tt 3,4‐7)
“Quando se completou o tempo previsto, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sujeito à Lei, para resgatar os que estavam sujeitos a Lei, e todos recebermos a dignidade de filhos” (Gl 4,45).
A revelação de Deus, a experiência de seu Amor misericordioso acontece através e com Jesus.
“Eu sou a porta. Quem entrar por mim será salvo…(Jo 10,9; “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim.” (Jo 14,6)
Ao longo deste ano teremos a possibilidade de ouvir e meditar novamente as palavras de Jesus (Jo,1723). Repensar as experiências das primeiras comunidades cristãs ( At 2,42); ouvir as exortações de Pedro (1Pd 1,2223). Experimentaremos a beleza de sermos pedras vivas deste edifício espiritual, membros do corpo de Cristo.
Redescobriremos os carismas de cada um para nos alegrarmos em poder colocá-los a serviço do mundo, superar as inevitáveis tensões e incompreensões que acompanham nossa vida e nossa ação. Tudo isto nos ajudará a superar nosso cansaço, nossas dificuldades, para que esta nossa Igreja, unida na comunhão, na fraternidade, no serviço, consiga em Jesus e por Jesus manifestar ao mundo o rosto e o coração do Pai.
Ao longo deste Jubileu da Misericórdia queremos fazer ressoar em todos os lugares para que chegue ao coração de todos o alegre anúncio dos Anjos na noite santa de Belém: “…Não tenhais medo! Eu vos anuncio uma grande alegria, que será também a de todo o povo: hoje na cidade de Davi, nasceu para vós o Salvador, que é o Cristo Senhor.”(Lc 2)
Meditando a Parábola do Bom Samaritano precisamos antes redescobrir e experimentar em nossa vida o rosto e o coração misericordioso de Jesus que se faz companheiro de nossa caminhada pelas estradas do mundo. Quando lemos esta parábola em qual das personagens nos reconhecemos? No fariseu? no Levita? no Samaritano?…Talvez, precisamos aprender a nos identificar antes no homem ferido a beira da estrada, para sentir que Jesus veio ao nosso encontro, olhou para nós, perdoou nossas falhas e pecados, nos curou…para que depois também nós pudéssemos olhar, perdoar, acolher, ajudar tantas irmãs e irmãos feridos e humilhados.
“… um Ano Santo para viver a misericórdia. Sim, caros irmãos e irmãs, este Ano Santo é nos oferecido para experimentar na nossa vida o toque dócil e suave do perdão de Deus, a sua presença ao nosso lado e a sua proximidade sobretudo nos momentos de maior privação.” (papa Francisco: 9/12/2015).
Para crescer neste conhecimento e neste encontro com Jesus, Deus nos doou a Bíblia, os Evangelhos, os relatos das primeiras comunidades cristas. Deveríamos nos perguntar se em nossa vida fazemos experiência, através da leitura orante da Palavra, de um Jesus amigo e irmão.
Os “Círculos bíblicos”, a “Leitura orante da Bíblia, antes, ou enquanto são meios de evangelização, deveriam em primeiro lugar ser também momentos de escuta da Palavra de Deus, de contemplação do rosto e do coração de Jesus. Infelizmente, em nossa Diocese, esta proposta, amadurecida e proposta em nossas Assembleias Diocesanas, foi acolhida somente por algumas paróquias e comunidades, ou foi reduzida às visitas missionárias, ou às confraternizações natalinas.
Parece que não estamos convencidos que nós, em primeiro lugar, nós: bispo, padres, seminaristas, irmãs, ministros leigos, coordenadores e lideranças de grupos e pastorais, nós fiéis praticantes, precisamos destes momentos de graça, destas experiências do amor de Jesus.
Quem se sentiu pobre, ferido a beira da estrada e sentiu que Jesus se aproximou dele com ternura de irmão, este sim será capacitado para se colocar ao lado de tantas irmãs e irmãos feridos e humilhados. O Jubileu da misericórdia poderia ser uma oportunidade para relançar os Círculos bíblicos, a Leitura Orante da Bíblia. São Jerônimo nos lembra: “Se, conforme o Apóstolo Paulo, Cristo é o poder de Deus e a sabedoria de Deus, e quem ignora as Escrituras ignora o poder de Deus e sua sabedoria, ignorar as Escrituras é ignorar Jesus Cristo.” (Leitura de 30/09).
Ao longo do Jubileu da Misericórdia iremos louvar e agradecer a Deus pelas coisas bonitas que aconteceram em nossa Diocese pela dedicação generosa de tantos irmãos e irmãs, agradecer pelo caminho percorrido nestes anos, que fez crescer nossa Igreja Particular em sua organização, estruturas, atividades e pastorais.
Somos porém todos conscientes das limitações que ainda precisamos enfrentar e superar para ser um Igreja samaritana, missionária, comprometida a anunciar e testemunhar em todos os recantos desta nossa Diocese o alegre anúncio do amor do Pai misericordioso, que em Jesus quer se tornar, através de nossa atitude fraterna e amiga, presença de vida e de esperança ao lado de todo irmão sofrido ou humilhado.
“…a necessária obra de renovação das instituições e das estruturas da Igreja é um meio que deve levar-nos a fazer a experiência viva e vivificante da misericórdia de Deus, a única que pode garantir que a Igreja seja aquela cidade posta sobre um monte que não pode permanecer escondida (cf. Mt 5, 14). Só resplandece uma Igreja misericordiosa! Se, por um só momento, nos esquecêssemos de que a misericórdia é «o que mais agrada a Deus», todos os nossos esforços seriam vãos, porque nos tornaríamos escravos das nossas instituições e das nossas estruturas, por mais renovadas que possam ser. Mas seríamos sempre escravos!” (Papa Francisco: 09/12/2015)
O Ano da Misericórdia se transforma assim em urgente apelo para fazer que nossa Igreja, nossas comunidades reflitam o rosto misericordioso do Pai e sejam capazes de levar e fazer sentir o amor do Pai. Precisamos ser uma Igreja Misericordiosa. Precisamos nos converter para ser uma Igreja Misericordiosa. Precisamos ser fiéis à missão que Jesus nos confia.
= Igreja Comunidade de irmãs e irmãos, sinal e testemunho de comunhão e fraternidade.
Tenho a impressão que nestes últimos tempos esteja diminuindo entre nós a consciência de sermos, dentro desta nossa realidade, a concretização da Igreja uma, santa, católica e apostólica, que unida e em comunhão, é chamada a dar testemunho do Senhor Jesus. Está falta de comunhão eclesial está condicionando e limitando o caminho de renovação e conversão pessoal e pastoral iniciado em sintonia com nossa Igreja no Brasil. As Assembleias diocesanas, a programação pastoral da Diocese, as orientações e encontros que visam indicar e acompanhar este caminho, em algumas paróquias, são ignoradas ou não são consideradas na elaboração dos planos pastorais locais. É verdade que as diferentes realidades e situações de nossas paróquias e comunidades exigem prudentes adaptações, mas isto deveria acontecer sempre dentro das linhas refletidas e propostas comunitariamente. O Papa Francisco nos alerta que há sempre o perigo que planos demais pessoais sejam fruto não tanto da preocupação de sábias adaptações às exigências locais, mas do desejo dos protagonistas de aparecer e de se destacar.
Também preocupa a falta daquela fraterna comunhão entre presbíteros, lideranças, grupos, pastorais…que deveria ser a característica visível da comunidade de Jesus! Preocupam as divisões, as tensões entre grupos e pastorais, as competições, a procura de se, o desejo de se promover, a dificuldade em se acolher e perdoar, em trabalhar juntos…
Penso com saudade ao caminho da primitiva comunidade cristã, chamada a continuar a presença e a missão de Jesus. Lendo os Atos dos Apóstolos, percebemos dificuldade da Igreja primitiva em encontrar o caminho mais adequado. Conhecemos as diferentes mentalidades e culturas, as tensões e contrastes, as diferentes idéias e projetos de evangelização através dos quais a comunidade foi traçando o caminho que a levaria a dar testemunho do Senhor Jesus no mundo inteiro. Mas sabemos também da sua convicção firme que o caminho certo deveria ser fruto da oração e fraterna reflexão da comunidade, que deste modo teria a certeza de ser iluminada pelo Espírito Santo. Pensamos à comunidade reunida no Cenáculo (At 1, 1226), à reflexão que preparou a articulação de diferentes serviços e ministérios (At 68),.ao “Concílio” de Jerusalém (At 15): tensões, diferentes projetos de Igrejas, diferentes mentalidades e culturas, mas também a certeza que o caminho certo deveria surgir da fraterna reflexão iluminada pelo Espírito Santo: “Então, os apóstolos e os anciãos reuniram-se para tratar desse assunto. Depois de longa discussão…” e, no final, a certeza de ter encontrado a conclusão fraterna e compartilhada querida por Deus: “…decidimos, o Espírito Santo e noós…(At 15).
Jesus quer fazer de nossa Igreja, de nossas paróquias e comunidades, exemplos e modelos concretos onde se experimente e se viva a misericórdia do Pai que nos acolhe e perdoa, para que nesta atitude possamos testemunhar e anunciar que é possível reverter a história do mundo, para que se torne história de salvação e de vida para todos.
“Que todos sejam um, como tu, Pai, estás em mim, e eu em ti. Que eles estejam em nós, afim de que o mundo creia que tu me enviaste. Eu lhes dei a glória que tu me destes, par que eles sejam um, como nós somos um: eu neles, e tu em mim, para que sejam perfeitamente unidos, e o mundo conheça que tu me enviaste e os amaste como amaste a mim.” Jo (17,2123)
“Eles eram perseverantes em ouvir o ensinamento dos Apóstolos, na comunhão fraterna, na fração do pão e nas orações.” (At 2,42)
“Pela obediência a verdade, vos purificastes, para praticar um amor fraterno sem fingimento. Amai vos, pois, uns aos outros de coração e com ardor.” 1Pd 1,22
“Do mesmo modo, também vós como pedras vivas, formai um edifício espiritual, um sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus, por Jesus Cristo.” (1Pd 2,5)
“Sabemos que passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos. Quem não ama permanece na morte.” (1Jo 314)
“Filhinhos, não amemos só com palavras, mas com ações e de verdade…”!1Jo 3,18)
“De fato, todos nós, judeus ou gregos, escravos ou livres, fomos batizados no mesmo Espírito, para formarmos um só corpo…” (1Cor 12,13)
“Há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo. Há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. Há diferentes atividades, mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos.’ (1Cor 12,46)
= Igreja Samaritana – Igreja “em saída –Igreja missionária.
“Hoje, aqui em Roma e em todas as dioceses do mundo, ao cruzar a Porta Santa, queremos também recordar outra porta que, há cinquenta anos, os Padres do Concílio Vaticano II escancararam ao mundo. Esta efeméride não pode lembrar apenas a riqueza dos documentos emanados, que permitem verificar até aos nossos dias o grande progresso que se realizou na fé. Mas o Concílio foi também, e primariamente, um encontro; um verdadeiro encontro entre a Igreja e os homens do nosso tempo. Um encontro marcado pela força do Espírito que impelia a sua Igreja a sair dos baixios que por muitos anos a mantiveram fechada em si mesma, para retomar com entusiasmo o caminho missionário. Era a retomada de um percurso para ir ao encontro de cada homem no lugar onde vive: na sua cidade, na sua casa, no local de trabalho… em qualquer lugar onde houver uma pessoa, a Igreja é chamada a ir lá ter com ela, para lhe levar a alegria do Evangelho e levar a Misericórdia e o perdão de Deus. Trata-se, pois, de um impulso missionário que, depois destas décadas, retomamos com a mesma força e o mesmo entusiasmo. O Jubileu exorta-nos a esta abertura e obriga-nos a não transcurar o espírito que surgiu do Vaticano II, o do Samaritano, como recordou o Beato Paulo VI na conclusão do Concílio. Atravessar hoje a Porta Santa compromete-nos a adoptar a misericórdia do bom samaritano.
Nossa Diocese é uma Igreja que nasceu e cresceu dentro deste impulso do Espírito que leva os discípulos de Jesus a sair pelo mundo afora para continuar a presença e a missão de Jesus em todos os lugares. Também nestes últimos anos o espírito missionário nos levou e se concretizou em importantes iniciativas quais as missões populares em nossas paróquias, o Congresso Eucarístico diocesano, a adesão à proposta da Missão Continental, à formação de grupos de evangelizadores em algumas paróquias, visitas e semanas de animação… Devemos porem reconhecer que os prementes apelos do papa a sermos um Igreja “em saída” orientados e incentivados pelo Concílio Vaticano II, pelas Conferências Latino-americanas, pelas propostas da Conferência de Aparecida, encontram dificuldade em ser acolhidas em nossas paróquias e comunidades e, ainda mais dificuldade em se concretizar no esforço para tornar nossa Igreja consciente de sua responsabilidade missionária e evangelizadora. Também as urgências propostas pela Nossa Igreja no Brasil (Igreja em estado permanente de missão – Igreja a serviço da vida plena para todos), refletidas e retomadas em nossas Assembleias diocesanas de Pastoral, não tiveram significativas recaídas na maioria de nossas comunidades.
Nestes anos foram iniciadas e levadas para frente experiências interessantes no esforço de anunciar o Evangelho: catecumenato de adultos, caminho de renovação da catequese, novas pastorais…Me parece porém que, em geral, nossa Diocese é ainda uma Igreja bastante fechada, mais preocupada de suas devoções e celebrações, de suas estruturas, com pouca coragem para sair pelas estradas do mundo a procura de irmãos afastados, sofridos, humilhados. Pastorais muitas vezes frágeis, pouca disponibilidade a se colocar a serviço dos irmãos necessitados. Muitas comunidades não conseguem nem visitar e acompanhar irmãos e irmãs doentes ou acamados, por falta de ministros da comunhão. Falta uma pastoral inclusiva, comprometida com os irmãos e irmãs com necessidades especiais. Novos bairros, periferias territoriais ou existenciais esquecidas… Temos que reconhecer que na maioria reduzimos nosso ser cristão à algumas práticas ou a participação das atividades e encontros de nossos grupinhos…
E no entanto: “ Jesus começou a percorrer todas as cidades e povoados, ensinando em suas sinagogas, proclamando a Boa Nova do Reino e curando todo tipo de doença e de enfermidade. Ao ver as multidões, Jesus encheu‐se de compaixão por elas , porque estavam cansadas e abatidas, como ovelhas que não tem pastor…” (Mt 9,35‐36). Jesus envia seus discípulos para a missão:”
…recebereis o Espírito Santo que virá sobre vós, para serdes minhas testemunhas em Jerusalém, por toda a Judéia e a Samaria, e até os confins “da terra.” (At 1,8) A nós comprometidos em nossas celebrações, festejos, em nossa reuniões, devoções e tradições. Sem tempo ou vontade para nos abrir ao mundo, ele lembra que o bom pastor deixa as noventa e nove para ir atrás da ovelha perdida até encontrá‐la: “Alegrai‐vos comigo! Encontrei a minha ovelha que estava perdida!” (Lc 15,6). A nós atarefados e sem tempo para nos ocupar dos pobres, famintos, sozinhos, viciados, doentes…, a nós que achamos que estes problemas não são de nossa responsabilidade, ele repete: “…Eles não precisam ir embora. Vós mesmos dai‐lhes de comer!” (Mt 14,16)
Quais são os sinais que Jesus aponta para mostrar que nele está chegando o Reino de Deus? “…Ide contar a João o que vistes e ouvistes: cegos recuperam a vista, paralíticos andam, leprosos são purificados e surdos ouvem, mortos ressuscitam e a pobres se anuncia a boa Nova. E feliz de quem não se escandalizará a meu respeito.” (Lc 7,22‐23)
“Chamando os doze discípulos, Jesus deu‐lhes poder para expulsar os espíritos impuros e curar todo tipo de doença e enfermidade.” (Mt 10,1)
Quais são em nossas comunidades os sinais de uma comunidade enviada por Jesus ao mundo para que pelo seu testemunho e seu trabalho, todos tenham vida?
Gostaria concluir com as palavras do Card. Parolin: “Neste Ano Santo, portanto, somos chamados a abrir o coração a todas as pessoas que vivem nas mais diferentes periferias existenciais, que muitas vezes nossas sociedades constroem de maneira dramática. Quantas feridas vemos em tantas pessoas que não tem mais voz porque o grito deles se tornou fraco e apagado a causa da indiferença de inteiros povos e nações. Quantos dramas na sombra da miséria e do ódio, quantos atentados à dignidade humana, à liberdade, aos direitos fundamentais. Neste Jubileu ainda mais a Igreja é chamada a curar estas feridas, a aliviá‐las com o óleo da consolação, a enfaixá‐las com a misericórdia e a curá‐las com a solidariedade e a atenção devida. O perigo é cair no cinismo, no egoísmo, na insensibilidade e no desinteresse”.
= “A messe é grande e os operários são poucos” ‐
Como acabamos de lembrar, as dificuldades enfrentadas na tentativa de fazer crescer nossa Igreja, para que se torne de verdade sinal e presença que faz acontecer o Reino de Deus aqui em nosso território, são consequência do apego a um modelo de Igreja que não responde mais às exigências de um mundo em rápidas e violentas transformações. São o resultado de uma mentalidade fechada que não se abre para acolher o “novo” que o Espírito de Deus está nos oferecendo para sermos uma Igreja que continua no mundo a presença e a missão de Jesus, com o coração de Jesus.
Precisamos de um novo Pentecostes, do soprar forte do Espírito de Deus que lançou os Apóstolos pelas estradas do mundo: “Quando chegou o dia de Pentecostes, os discípulos estavam todos reunidos no mesmo lugar. De repente, veio do céu um ruído como de um vento forte, que encheu toda a casa em que se encontravam.” (At 2,1‐2)
Acredito também que o que limita pesadamente nossa presença e nossa ação missionária é o reduzido número de batizados e praticantes conscientes de sua responsabilidade de batizados e portanto disponíveis a assumir os diferentes serviços que a vida e a missão da comunidade exigem. Nas comunidades onde apareceram pessoas generosas e disponíveis surgiram também iniciativas e atividades positivas que estão dando certo, renovam e fazem crescer a comunidade.
Infelizmente “A messe é grande e os operários são poucos”. Temos que dar graças a Deus por estes nossos irmãos e irmãs que amam, servem e também questionam nossa tranquila maneira de ser cristãos. Devemos porém nos perguntar: “por que os operários são poucos? É Jesus que não chama e não convida?
Pelo que me consta são bem poucas as comunidades em que existe o Grupo Vocacional. A Pastoral Vocacional quase não consegue envolver padres, irmãs, leigas e leigos que parecem pouco motivados para este fundamental serviço de suscitar vocações a serviço do Reino. Na maioria das comunidades não existe nem o dia de oração pelas vocações…Todos lamentam a falta de padres, de irmãs, de leigos e leigas, mas parece que não tomamos ainda consciência que é de nossas comunidades que devem surgir as vocações e é dentro de nossas comunidades que elas devem crescer. E, do outro lado, estamos vendo que onde a comunidade trabalha e se interessa pelas vocações estão aparecendo jovens disponíveis para iniciar seu caminho no seminário, aparecem casais a serviço da missão e vocação da família, aumentam catequistas e ministros leigos, lideranças nas diferentes pastorais, na animação de grupos de jovens de grupos do IAM…
Infelizmente neste tempo de mudança tivemos que suspender as “Escolas de Formação” para leigos e leigas que estavam dando bons frutos; será necessário retomar com urgências o “Seminário Santo Estevão pela preparação de ministros leigos – a Escola “São Paulo Apóstolo” para formação de catequistas, a Escola “Irmã Dorothy”, para preparar animadores a serviço de uma sociedade justa e fraterna, a Escola Diaconal para formar diáconos permanentes. No nosso Seminário Maior e no Centro de Animação Vocacional está aumentando o número de vocacionados, nos animando na esperança de termos um dia generosos e dedicados ministros consagrados a serviço de nossas comunidades. Precisamos também pensar a como incrementar e sustentar estas indispensáveis iniciativas de formação e de preparação de operários para a vinha do Senhor, iniciativas que precisam de recursos e que portanto somente poderão ser levadas para frente pela nossa generosa colaboração e disponibilidade.
Irmãs e irmãos, falando do Jubileu da Misericórdia, fomos por estas reflexões lembrando as limitações e falhas que limitam o esforço desta nossa Igreja de Grajaú desejosa de ser instrumento e sinal da Misericórdia do Pai, comprometida em fazer sentir a todos aqueles aos quais Jesus nos envia este amor grande de Deus que a todos quer amar, acolher, perdoar.
A tarefa que nos é confiada é grande, por isto precisamos lembrar nossas dificuldades não para desanimar, mas para retomar com mais coragem a missão que nos é confiada.
“Não tenhas medo, pequeno rebanho, pois foi do agrado do vosso Pai dar a vós o Reino’ (Lc 12,32 O maior sinal da misericórdia e o amor com que Deus olha a todos nós e a todos nos acolhe e perdoa, é justamente a confiança com que Ele nos convida a continuar no mundo a missão de Jesus, a missão de sermos no mundo ministros de sua misericórdia e de seu amor.
Precisamos porem estar bem conscientes que seremos dignos da confiança do Pai na medida em que “procuraremos ir ao encontro uns dos outros, e com todos entrar em comunhão fraterna, não nos fechando e defendendo, não construindo um nosso mundo isolado que se coloque em oposição e competição com o único mundo de Deus, que é aquele no meio do qual nos encontramos quando nascemos. Precisamos aprender que nós cristãos crescemos e nos alimentamos, como Nossa Senhora nos ensina, na medida em que ajudamos a crescer e a se alimentar os outros. Rígidos Integralismos e fechamentos em nossas instituições são o contrário do caminho iniciado com a Encarnação do Filho de Deus. O Natal é Deus que se oferece aos homens através dos homens. (Camillo Paz)
O Jubileu é a Misericórdia e o Amor de Deus Pai que que chegam ao homem através do homem”.
“Bendito seja o Senhor Deus de Israel, porque a seu povo visitou e libertou e fez surgir um poderoso Salvador na casa de Davi, seu servidor.” Repetiremos, agradecidos e disponíveis o que hoje o cântico de Zacarias repete para cada um de nós:
“Serás profeta do Altíssimo, o menino, pois irás andando a frente do Senhor para aplainar e preparar os seus caminhos, anunciando ao seu povo a salvação que está na remissão de seus pecados, pela bondade e compaixão de nosso Deus, que sobre nós fará brilhar o Sol Nascente, para iluminar a quantos jazem entre as trevas e na sombra da morte estão sentados e para dirigir os nossos passos no caminho da paz.” (Lç 1,68‐79)
Ao longo de todo este Jubileu da Misericórdia Nossa Senhora, Mãe da Misericórdia, estará ao nosso lado para nos incentivar e nos animar repetindo a todos nós chamados a ser ministros da misericórdia: “Fazei tudo o que ele vos disser” (Jo 2,5)
Nossa Senhora e São José, que acolheram e doaram ao mundo o Filho de Deus, intercedam por nós e nos ajudem a sermos a comunidade de Jesus humilde e fraterna que procura construir comunhão e fraternidade com todos em nome de Jesus e com a força do Espírito Santo.
Grajaú: 25/12/2015 Natal do Senhor Jesus.