A parte central do segundo dia do 1º Encontro de Parlamentares Católicos a Serviço do Povo Brasileiro, desta sexta-feira, 17 de setembro, foi dedicada ao painel “Testemunhos em Diálogo”, no qual, de forma intercalada, nove políticos previamente escolhidos apresentaram o que o parlamentares católicos esperam da Igreja no exercício de sua missão e nove bispos e arcebispos responderam à pergunta: “O que a Igreja espera dos parlamentares católicos no exercício de sua missão?”.
Neste momento coordenado pelo moderador do dia, o bispo de Roraima (RR) e segundo-vice presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Mário Antônio da Silva, cada um teve um tempo de cinco minutos de fala. Com os mais de 80 parlamentares brasileiros, de diferentes partidos políticos e níveis de atuação (municipal, estadual e federal), o encontro está sendo realizado pela Assessoria Política da CNBB desde a quinta-feira, 16 de setembro. Para efeitos didáticos, as respostas foram organizadas não pela ordem da fala mas a partir das perguntas. Abaixo agrupamos as falas dos noves parlamentares que falaram, como segue abaixo:
O que os parlamentares esperam da Igreja no exercício de sua missão?
Primeiro a falar, o deputado federal Patrus Ananais (PT/MG) apresentou às lideranças uma questão a partir das preocupações sociais expressadas pelo Papa Francisco na Encíclica Fratelli Tutti: como enfrentar o poder do dinheiro e do capital e a deificação do mercado? Sabemos que a miséria não é vontade de Deus e, por isto, esperamos o enfrentamento deste poder com ações concretas.
A deputada federal Carmem Zanotto (Cidadania/SC) disse esperar da Igreja um diálogo mais próximo dos parlamentares no exercício de sua missão, mesmo em torno de pautas não convergentes. Ela ressentiu-se do distanciamento mesmo entre os parlamentares católicos e disse sentir falta das missas no Congresso Nacional, espaço no qual as homilias tinham um papel central de orientar a atuação parlamentar. Disse ser importante continuar realizando encontros como este para refletir como os parlamentares podem estar mais próximos em torno da atuação a partir dos temas e projetos que unem os católicos.
O vereador Chico Alencar (Psol-RJ) lembrou que em 1970, à época membro da Juventude Estudantil Católica (JEC), participou de uma assembleia da CNBB na qual conheceu dom Helder Câmara, dom Paulo Evaristo Arns e dom Pedro Casaldáliga. Ele disse que espera que a Igreja seja Igreja e busque, com os parlamentares, a partilha, a troca e viver em comunidade. Também disse que a missa da CNBB no Congresso era um espaço no qual alimentava a sua espiritualidade para atuar no Congresso. Ele disse ser insuficiente ser católico apenas do “senso demográfico” ou apenas de ir às missas ao domingo. “Não dá para aceitar o aumento de 23% de compras de arma no Brasil. “É impossível um cristão defender isto que vai na contramão do princípio de buscar a justiça como caminho para a paz”, disse.
O deputado federal Francisco Júnior (PSD-GO) partilhou suas dores e expectativas como parlamentar. Segundo ele, antes de entrar na política era visto como “bom moço” mas hoje é como se tivesse um carimbo de “suspeito” na testa. Ele disse entender a política como missão e vocação e espera que a Igreja seja como uma mãe e pastora capaz de apontar os caminhos e referências para a sua atuação baseadas na Doutrina Social mas também de acompanhar os mandatos e chamar a atenção quando está errado mas também incentivar quando há acertos. Ele disse ser importante que a Igreja não fique refém de pessoas e ideologias mas seja um espaço aberto a acolher a todos. “Que o exercício da política seja como um ministério a serviço da vida, da família e dos empobrecidos”, disse.
A vereadora de Itacoatiara (AM), maria Francelizia da Silva, Itacoatiara (PT), disse compreender que o mandato é uma extensão da atuação pastoral do cristão no espaço político. Contudo, ela apontou que sente falta de formação mais efetiva, por meio de escolas de formação política, dos parlamentares e também para despertar nos leigos o desejo de atuação no espaço político. Também cobrou mais acompanhamento da atuação parlamentar.
O senador Flávio Arns (Podemos-PR) disse ser necessário continuar a promoção de encontros entre a Igreja e os parlamentares para aproximação recíproca. “A gente sempre espera que a Igreja esteja atenta aos fatos pelos quais o Brasil está passando como a necessidade de mais diálogo, a superação das polarizações e também traduzir isto para a vida do povo”, disse. Segundo ele, a Igreja precisa acompanhar mais de perto os mandatos parlamentares para que possa ampliar as vozes das bases a partir dos desafios de cada região. Ele disse ser necessário também a Igreja Católica dar mais visibilidade às várias iniciativas que faz no Brasil a serviço do povo brasileiro (saúde, educação, assistência, entre outros). Defendeu também ser necessário que a Igreja aproxime-se de outros políticos que atuam a partir de princípios humanísticos mas não necessariamente comungam da mesma fé.
A senadora Zenaide Maia (Pros-RN) disse que a conjuntura pede mais ações de promoção e defesa da fé. Em sua avaliação, a Igreja precisa subsidiar os parlamentares com mais conhecimento. Uma papel que a Igreja pode fazer, em sua avaliação, uma vez que atua com uma grande capilaridade, é ajudar as pessoas a ter uma visão mais crítica da realidade e a compreender que a pobreza não é algo que Deus quer mas é fruto da ação humana e de decisões políticas e governamentais.
O vereador de Fortaleza (CE) Jorge Pinheiro (PSDB) pediu, como filho, que a Igreja seja uma mãe educadora que esteja mais presente incentivando e acolhendo mas também puxando a orelha quando notar que a atuação parlamentar não esteja coerente com os princípios e orientações católicas.
A deputada estadual pelo PT de Minas Gerais, Marilene Alves de Souza (Leninha) disse perceber a existência de muitos pontos convergentes a partir dos quais a Igreja pode trabalhar para iluminar o caminho e a atuação dos parlamentares no exercício de seus mandatos. Ela disse acreditar que a política é a forma mais perfeita de exercício da caridade. “A caridade é o caminho mais nobre para transformar as estruturas rumo à política do bem comum e do bem viver para todos, especialmente para os mais empobrecidos”, afirmou.
Fonte: CNBB